UM BELO CAPÍTULO QUE CHEGOU AO FIM...
Antes de ficar grávida, já tinha conhecimentos sobre a importância da amamentação, conhecimentos estes adquiridos durante o meu curso de enfermagem... Talvez por isso nunca tive dúvidas que um dia, assim que tivesse um filho, fosse amamentar... Não condeno, nem julgo quem opta pelo aleitamento artificial, mas quem me segue sabe bem o quanto defendo este tipo de alimentação natural.
Confesso que, mesmo tendo todos os conhecimentos necessários, tive muitas dúvidas, quer durante a gravidez, quer quando o Gui nasceu... Existe uma grande distância entre o que uma pessoa pensa que vai ser capaz de fazer ao acontecer...
Sabia que o início não ía ser assim tão expontâneo e evidente, e confesso até que pensava que ía ser um bocadinho mais fácil...
No primeiro mês, desistir passou-me pela cabeça umas centenas de vezes, tinha receio de não estar a alimentar suficientemente o Gui... Depois vinham as consultas semanais onde o Gui era pesado e depressa as dúvidas desapareciam e a confiança em mim era maior.
Os primeiros 3 meses foram, sem dúvida, os mais cansativos, o Gui demorava imenso tempo a mamar, mamava a cada duas horas (tanto de dia como de noite), tinha algumas dores e andava super cansada. Mas o pior aconteceu quando o Gui tinha dois meses e meio... Fiz uma mastite na mama direita e quase que desisti de amamentar... Estávamos de férias em Portugal, de um dia para o outro a mama direita começou a ficar engurgitada, e depressa se formou um grande abcesso... Parecia que tinha uma bola de ténis, na mama... As dores eram imensas... Fiz de tudo para conseguir reverter esta situação... Desde massagens, com quente e frio, passando por colocar o Gui a mamar em "N" posições diferentes até a utilização da bomba de extracção de leite... Nada resultou, o abcesso parecia querer ficar... Não dormia em condições, tinha dores horríveis e estava exausta... Comecei então a fazer febre... Entre as idas aos Centros de Saúde, anti-inflamatórios e antibiótico, acabei por ir parar ao serviço de Urgências onde fui submetida a uma drenagem de abcesso... A partir daqui as dores começaram a desaparecer... Fiquei com um dreno, tive uma semana a fazer tratamento diário (e graças à boa vontade da vizinha dos meus pais, que também é enfermeira, tive a sorte de fazer os tratamentos em casa, todos os dias vinha-me "fazer o penso")... Foram 15 dias péssimos... Coloquei tudo em questão, pensei em desistir de amamentar, mas não o fiz, e mesmo com o abcesso, e com o dreno na mama, amamentei sempre!
Confesso que tive muito medo de voltar a passar por isto novamente, e disse a mim mesmo que se voltasse a acontecer teria que desistir. Felizmente não se repetiu, o processo de amamentação acabou por se tornar natural e simples, conseguimos estabelecer aquela "relação especial tão desejada"...
Uns dias antes do Gui completar 10 mesinhos, recomecei a trabalhar, mas com um horário de trabalho de 12 horas/dia e com o Gui a acordar a cada 3 horas para comer, andava demasiada cansada... Foi então que achamos que era a altura de começar a introduzir o leite artificial, porque não sabíamos quanto tempo seria preciso para o Gui se habituar... Falei com a Pediatra, compramos o leite que ela nos indicou e, aos 10 meses e meio o Gui bebeu então pela primeira vez leite artificial... Em dois dias o Gui rejeitou completamente a mama e nunca mais quis mamar! Nunca pensei que ele fizesse um desmame tão repentino e fácil. Foram 10 meses e meio que ficarão bem guardadinhos na minha memória...
Para trás ficam só as belas recordações e também aquelas situações mais caricatas (se é que lhe podemos chamar assim)... As vezes que tive que amamentar no carro porque não haviam locais apropriados para o fazermos confortavelmente, o Gui distraísse imenso, além disso não me sentia à vontade em fazê-lo no meio de uma multidão... Sem falar daqueles cantinhos de amamentação/fraldários que não lembram ao menino Jesus, que cheiravam a esgoto, ou pareciam saunas (no Verão) ou então arcas frigoríficas (no Inverno)...
E se no início tinha muito pudor, o tempo e a naturalidade do acto acabaram por resolver este meu "problema"... Tive sempre cuidado de fazê-lo discretamente, até porque aqui em França sentia-me um bocadinho "estranha", era raríssimo ver alguém a fazê-lo.. Nunca usei nenhum avental ou lenço porque o Gui suava imenso e não suportava estar tapado... Tenho algumas fotografias a amamentar que registam com carinho esses belos momentos, e lamento não o ter registado muito mais...
Como foram mágicos estes 10 meses e meio... Como fomos felizes... Como foi bom para mim e, muito mais ainda, para o Gui... Sinto-me uma felizarda por o ter feito e voltaria a repetir tudo novamente, mesmo com todos os obstáculos que tivemos. Quem já amamentou sabe bem do que falo, e apesar de existirem sempre alguns momentos difíceis, na realidade quase ninguém acaba por os contar porque, quando falamos da amamentação, não nos lembramos das coisas difíceis, lembramo-nos apenas das coisas maravilhosas que ela nos dá!