CONTADO NINGUÉM ACREDITA
Ora aqui vai mais um post daqueles que eu gosto de intitular de "contado ninguém acredita", chamo-os assim pois são situações tão surreais que se não acontecessem comigo ou eu não visse não me acreditava.
Hoje este post é uma certa continuação do post anterior, por isso para quem desconhece o teor do primeiro vale a pena "clicar aqui" para perceber melhor toda esta história...
Ora, depois de ter as malditas gotas para a minha otite, no mesmo dia, comecei o tratamento (5 gotas de ofloxacina, em cada ouvido, 2 vezes por dia)... Entre "paracetamol, brufen, descongestionantes nasais e afins", lá fui trabalhar na sexta, no sábado e no domingo... Cada dia sentia-me pior, sentia sobretudo os ouvidos cada vez mais entupidos, mais zumbidos e mais pressão... As dores até não eram muitas... Mesmo sendo enfermeira, confesso que não sabia ao certo se isto era asim tão normal.... No meu entendimento, deveria estar a melhorar e não a piorar, por isso, no domingo, como estava a trabalhar e o médico que estava de urgência era supostamente profissional e acessível, aproveitei que ele foi ao serviço, para avaliar um doente, expliquei a minha situação e pedi-lhe se me podia dar uma examinadela com o otoscópio nos ouvidos para ficar mais descansada... Para o meu espanto, o médico deu-me a resposta mais descabida e despropositada: não tinha nenhum otoscópio, mas que realmente não era normal estar assim, por isso aconselhou-me ir a um especialista, um otorrinolaringologista!
Ainda falei com o pessoal que trabalha comigo que, supostamente, conhece melhor o sistema de saúde francês mas ninguém sabia ao certo a que hospital era melhor ir... Já estava mentalizada que ía perder mais um dia a correr em hospitais...
Como hoje estava de folga, liguei para a médica de família para saber se havia alguma disponibilidade para me atender, mas não havia, decidi ir então a um serviço de urgência. Deixei o Gui com a minha amiga J., e lá fui eu... Não fui ao mesmo hospital que tinha ido na quinta-feira, pois sabia que não havia a especialidade que precisava, por isso fui a outro...
Cheguei às urgências do hospital mas fui logo informada que tinha que ir a outro hospital pois também ali não haviam otorrinolaringologistas, nem sabiam exactamente onde havia...
Fui então a outro hospital, dirigi-me ao balcão das Urgências, apresentei o meu problemas e no mesmo instante disseram-me que não era ali que devia estar para ser avaliada pelo otorrino, tinha que me dirigir à entrada principal do hospital...
Era a segunda vez que ía a um hospital e era a segunda vez que estacionava o carro nos "cascos de rolha".... Nestes as urgências ficavam num pavilhão por trás do hospital, e quando lá chego ainda descubro que tinha que ir ao Hall do Hospital... Mas que raio de organização estranha...
Não tirei nenhuma fotografia do hall do hospital porque dizia ser proibido, mas digo-vos que entre macas a entrar e a sair, bebés e crianças a passar, gabinetes de consultas e admissões, tudo não passava de uma autêntica salgalhada... Confesso que me senti completamente desorientada pois não sabia o que devia fazer... Num canto, lá descobri um balcão que dizia otorrino... Falei com a secretária, tornei a explicar o caso, da secretária entrei para falar com outra secretária e tornei a repetir a mesma história, para ver se me atendiam, e dali mandaram-me tirar uma senha para fazer o meu dossier... Tirei a senha, haviam 12 pessoas à minha frente, esperei mais ou menos uns 30 minutinhos (talvez nem tanto)... Dei o meu cartão de cidadão, o de saúde e o do seguro de saúde, e sem dizer mais nada, voltei à secretária de otorrino onde fui atendida por uma médica, de imediato (isto porque não havia ninguém à espera)!
Descobri que tinha mesmo razão, as gotas de antibiótico não estavam a fazer qualquer efeito porque a minha infecção é atrás do tímpano... Presceveu-me novo antibiótico oral, e como desta vez eram 16horas, não tive nenhuma complicação em encontrar uma farmácia aberta!
Vim-me embora a reflectir sobre tudo isto e cheguei à conclusão que o sistema de saúde francês para situações agudas chega a ser bem pior do que em Portugal, pois cada hospital funciona como quer, não existe nenhuma lógica no atendimento, nem na disposição dos serviços, sem falar da falta de boa vontade do médico que estava no domingo a trabalhar no hospital onde eu trabalho...
Em quase cinco anos que cá estamos, esta foi a segunda vez que fui a um serviço de urgências, sem contar aquela vez que acompanhei o R... E de todas as vezes que fui, nunca percebi a forma como eles definem as prioridades, pois não utilizam a Triagem de Manchester, por isso nunca sabemos quanto tempo teremos que estar à espera! E ainda dizemos nós que, nós Portugueses, somos complicados....