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As Nossas Voltas

A vida dá muitas voltas, e foi numa dessas voltas, que nos tornamos emigrantes e viemos parar a Paris. Um blog sobre um pouco de mim, um pouco de nós, o dia-a-dia e não só.Simples mas cheio de ternura e dedicação!

As Nossas Voltas

A vida dá muitas voltas, e foi numa dessas voltas, que nos tornamos emigrantes e viemos parar a Paris. Um blog sobre um pouco de mim, um pouco de nós, o dia-a-dia e não só.Simples mas cheio de ternura e dedicação!

CONTADO NINGUÉM ACREDITA

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Este fim-de-semana o meu pai fez anos, e como já tem vindo a ser habitual, depois que o Gui nasceu, a família mais próxima veio até cá para festejarmos o dia juntos... Foram 3 dias muito bem passados, não fosse o Gui ficar doente...

 

Tudo começou no sábado, com febre, alguma tosse seca, e uma certa irritação por parte do Gui... Ao princípio pensávamos que era por ele andar eufórico com tanto movimento cá em casa, mas com o passar do tempo vimos que afinal era o início de uma virose qualquer... A febre passou a ser contínua, a tosse seca passou a tosse produtiva, com diarreia e noites mal dormidas... Enfim, na segunda decidimos que o Gui devia ser avaliado por um médico...

 

Infelizmente não haviam vagas na médica de família, nem no chamado "SOS Médecin" (um serviço que existe aqui para evitar ir às urgências dos hospitais)... Fui à internet, procurei por uma vaga num site muito conhecido, que existe para esse efeito, chamado Doctolib, e encontrei uma vaga num suposto Pediatra, a 30 km de casa, às 20h... Vasculhei na internet se haviam avaliações deste médico, e encontrei boas recomendações... Sem hesitar, marquei a consulta e avisei o R. que íriamos então juntos...

 

Como não havia um lugar de estacionamento próximo do Gabinete de Pediatria, eu e o Gui saímos do carro e entramos para a sala de espera, enquanto o R. foi estacionar o carro... Rapidamente fomos chamados, tão rápido que nem o R. teve tempo de entrar connosco...

 

Confesso que mal entramos no consultório, fiquei com uma impressão estranha do médico... Havia qualquer coisa "bizarra" (como dizem os franceses... Lol...)... O olhar, a maneira de estar... Enfim... Um conjunto de coisas...

 

Comecei por explicar que estava preocupada com o Gui pois andava, desde sábado, com febre, perda de apetite, diarreia, tosse e mal-estar geral... Contei inclusivé que tinha feito 39.3 de temperatura às 17h30, mas que devido ao paracetamol ele estava muito mais enérgico naquele momento... Olhou para mim, e a primeira reacção foi: "e veio de tão longe só por isso?!"... Preferi nem comentar aquela pergunta tão parva, pois estava mais interessada que o Gui fosse examinado... 

 

Pesámos o Gui (15kg), medimos (98cm) e rapidamente examinou os ouvidos e a garganta... Sentia-me tão "deslocada" que, para ser sincera, nem me lembro se ele auscultou os pulmões ao Gui... Depois de fazer esta avaliação rápida, deslocou-se a um armário e pegou numa caixa branca cheia de bocadinhos de chocolate... Abriu a caixa e ofereceu ao Gui... O Gui, com o ar mais desconfiado, que a própria mãe (eu, Lol...), não aceitou aquela oferta estranha, e eu senti-me na obrigação de lhe dizer que ele não gosta de comer chocolates... Que ideia a dele... Não percebi porque carga de água se lembrou de oferecer chocolate... Sentou-se na secretária,  escreve a receita médica e diz que o Gui tem uma inflamação a nível pulmonar e que por isso tem febre... O cúmulo é quando indica estes dois tratamentos que deve fazer, e ainda os escreve na receita médica:

- continuar a dar o paracetamol xarope para 15kg (dose indicada na seringa, e seguindo o peso do Gui) de 4 em 4 horas, mas para ser ainda mais eficaz a dose ideal é a de 22.5kg de 6 em 6 horas (50% a mais do peso dele!!!);

- e correr 10 a 15 minutos, três vezes por dia, antes das refeições, para tossir, eliminar a expectoração e ganhar apetite!!!

Acho que naquele instante não consegui esconder a minha cara de parva com tantas parvoíces juntas... Peguei na receita, e depois de dar o cartão de saúde, peguei no Gui e saí incrédula com toda aquela palhaçada... Nem consegui dizer que não concordava com nada do que ele estava a dizer... Saí para fora, e o R. estava à nossa espera... Contei-lhe sobre o sucedido, e acreditem que mais parecia que eu estava a inventar toda aquela história ou que não tinha percebido nadinha de nada do que ele tinha dito... 

 

Fomos para casa incrédulos com tudo, e durante os cerca de 30 minutos de viagem para casa, só falamos disto... Nem à farmácia fomos pois tínhamos tudo o que estava prescrito naquela receita... 

 

No dia seguinte, e porque o paracetamol estava também a acabar, dirigi-me à farmácia perto de casa para levantar os dois medicamentos que estavam na receita médica... A cara de espanto do farmacêutico foi imediata, depressa me questionou para quem era aquela receita e que idade e peso afinal tinha a criança em questão... É óbvio que acabei por contar como tudo se passou, e garanti ao farmacêutico que jamais tivemos a intenção de dar uma dose maior de paracetamol do que o peso do Gui, mesmo quando o Pediatra nos prescreveu outra dose... Fartou-se de rir quando viu a prescrição de correr antes das refeições, e até em jeito de piada me perguntou qual era o truque do Pediatra para conseguir colocar uma criança doente de 2 anos a correr 10 a 15 minutos antes das refeições...

 

Infelizmente, o farmacêutico acabou por me contar que existem muitos médicos, Pediatras e não só, que todos os dias fazem prescrições escandalosas. Nesses casos,  eles ligam para os médicos para terem certeza daquelas anormalidades, e a maior parte das vezes acabam por ser insultados... No final, a farmácia não fornece o medicamento e faz uma sinalização à Segurança Social, mas mesmo depois de inúmeras denúncias, existem muitos maus profissionais que continuam a exercer a profissão e a colocar a vida das pessoas em risco!

 

Neste tempo que estamos cá já tinha chegado à conclusão que é preciso ter sorte para encontrar um bom médico, já suspeitava que existissem maus profissionais pois, infelizmente, cruzei-me com alguns... Mas ouvir o farmacêutico a confirmar isto foi, sem dúvida, assustador... No final, acabou por me indicar o nome de uma Pediatra da cidade e aconselhou-me a nunca recorrer a médicos que têm logo vagas disponíveis, pois esses são para desconfiar e fugir deles!!!

 

Como vêem, os maus profissionais estão em todo o lado, é preciso é estarmos atentos e, em caso de dúvidas, não hesitar em pedir uma segunda opinião! 

CONTADO NINGUÉM ACREDITA

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Ora aqui vai mais um post daqueles que eu gosto de intitular de "contado ninguém acredita", chamo-os assim pois são situações tão surreais que se não acontecessem comigo ou eu não visse não me acreditava.

 

Hoje este post é uma certa continuação do post anterior, por isso para quem desconhece o teor do primeiro vale a pena "clicar aqui" para perceber melhor toda esta história...

 

Ora, depois de ter as malditas gotas para a minha otite, no mesmo dia, comecei o tratamento (5 gotas de ofloxacina, em cada ouvido, 2 vezes por dia)... Entre "paracetamol, brufen, descongestionantes nasais e afins", lá fui trabalhar na sexta, no sábado e no domingo... Cada dia sentia-me pior, sentia sobretudo os ouvidos cada vez mais entupidos, mais zumbidos e mais pressão... As dores até não eram muitas... Mesmo sendo enfermeira, confesso que não sabia ao certo se isto era asim tão normal.... No meu entendimento, deveria estar a melhorar e não a piorar, por isso, no domingo, como estava a trabalhar e o médico que estava de urgência era supostamente profissional e acessível, aproveitei que ele foi ao serviço, para avaliar um doente, expliquei a minha situação e pedi-lhe se me podia dar uma examinadela com o otoscópio nos ouvidos para ficar mais descansada... Para o meu espanto, o médico deu-me a resposta mais descabida e despropositada: não tinha nenhum otoscópio, mas que realmente não era normal estar assim, por isso aconselhou-me ir a um especialista, um otorrinolaringologista!

 

Ainda falei com o pessoal que trabalha comigo que, supostamente, conhece melhor o sistema de saúde francês mas ninguém sabia ao certo a que hospital era melhor ir... Já estava mentalizada que ía perder mais um dia a correr em hospitais...

 

Como hoje estava de folga, liguei para a médica de família para saber se havia alguma disponibilidade para me atender, mas não havia, decidi ir então a um serviço de urgência. Deixei o Gui com a minha amiga J., e lá fui eu... Não fui ao mesmo hospital que tinha ido na quinta-feira, pois sabia que não havia a especialidade que precisava, por isso fui a outro... 

 

Cheguei às urgências do hospital mas fui logo informada que tinha que ir a outro hospital pois também ali não haviam otorrinolaringologistas, nem sabiam exactamente onde havia...

 

Fui então a outro hospital, dirigi-me ao balcão das Urgências, apresentei o meu problemas e no mesmo instante disseram-me que não era ali que devia estar para ser avaliada pelo otorrino, tinha que me dirigir à entrada principal do hospital...

 

Era a segunda vez que ía a um hospital e era a segunda vez que estacionava o carro nos "cascos de rolha".... Nestes as urgências ficavam num pavilhão por trás do hospital, e quando lá chego ainda descubro que tinha que ir ao Hall do Hospital... Mas que raio de organização estranha...

 

Não tirei nenhuma fotografia do hall do hospital porque dizia ser proibido, mas digo-vos que entre macas a entrar e a sair, bebés e crianças a passar, gabinetes de consultas e admissões, tudo não passava de uma autêntica salgalhada... Confesso que me senti completamente desorientada pois não sabia o que devia fazer... Num canto, lá descobri um balcão que dizia otorrino... Falei com a secretária, tornei a explicar o caso, da secretária entrei para falar com outra secretária e tornei a repetir a mesma história, para ver se me atendiam, e dali mandaram-me tirar uma senha para fazer o meu dossier... Tirei a senha, haviam 12 pessoas à minha frente, esperei mais ou menos uns 30 minutinhos (talvez nem tanto)... Dei o meu cartão de cidadão, o de saúde e o do seguro de saúde, e sem dizer mais nada, voltei à secretária de otorrino onde fui atendida por uma médica, de imediato (isto porque não havia ninguém à espera)! 

 

Descobri que tinha mesmo razão, as gotas de antibiótico não estavam a fazer qualquer efeito porque a minha infecção é atrás do tímpano... Presceveu-me novo antibiótico oral, e como desta vez eram 16horas, não tive nenhuma complicação em encontrar uma farmácia aberta!

 

Vim-me embora a reflectir sobre tudo isto e cheguei à conclusão que o sistema de saúde francês para situações agudas chega a ser bem pior do que em Portugal, pois cada hospital funciona como quer, não existe nenhuma lógica no atendimento, nem na disposição dos serviços, sem falar da falta de boa vontade do médico que estava no domingo a trabalhar no hospital onde eu trabalho...  

 

Em quase cinco anos que cá estamos, esta foi a segunda vez que fui a um serviço de urgências, sem contar aquela vez que acompanhei o R... E de todas as vezes que fui, nunca percebi a forma como eles definem as prioridades, pois não utilizam a Triagem de Manchester, por isso nunca sabemos quanto tempo teremos que estar à espera! E ainda dizemos nós que, nós Portugueses, somos complicados....

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CONSULTAS VIA EMAIL!

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Após 15 dias a controlar o meu açúcar antes e depois das refeições, lá fui eu ter com o meu endocrinologista para lhe mostrar os meus resultados... Sabia perfeitamente que estava tudo controlado, mas era natural ser avaliada após a implementação do plano alimentar.

 

Ao ver os resultados, ficou satisfeito, perguntou-me se, com aquele plano alimentar, não sentia fome... Tive que ser sincera e disse-lhe a verdade, que comia mais vezes e mais do que estava descrito no plano, pois tudo dependia do que iria fazer ao longo do dia. Como já estava à espera, não me repreendeu, pois o importante eram os valores estarem sempre controlados... Nada que eu também não soubesse, mas que no fundo precisava de ouvir da parte dele.

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A partir de hoje começo a picar o dedo apenas 4 vezes ao dia, e em dias alternados: ao acordar e duas horas depois das 3 principais refeições (pequeno-almoço, almoço e jantar).

 

O melhor disto tudo é que não preciso mais de ir ao consultório para lhe mostrar os valores, a partir de agora as consultas passam a ser feitas via email... Basta que todas as semanas lhe envie os resultados dos meus valores de glicemia, e se houver algum problema aí sim terei nova consulta na Clinica! Fiquei fascinada com o facto disto ser possível, nem sei quais são os critérios para isto ser possível, mas penso que o facto de ser enfermeira ajudou para que as coisas fossem mais simplificadas... Isto sim são consultas personalizadas!

 

Será que em Portugal as coisas funcionam da mesma forma?!