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As Nossas Voltas

A vida dá muitas voltas, e foi numa dessas voltas, que nos tornamos emigrantes e viemos parar a Paris. Um blog sobre um pouco de mim, um pouco de nós, o dia-a-dia e não só.Simples mas cheio de ternura e dedicação!

As Nossas Voltas

A vida dá muitas voltas, e foi numa dessas voltas, que nos tornamos emigrantes e viemos parar a Paris. Um blog sobre um pouco de mim, um pouco de nós, o dia-a-dia e não só.Simples mas cheio de ternura e dedicação!

NÃO ACONTECE SÓ AOS OUTROS - PARTE 2

Ao fim de um ou dois dias a febre do Gui tinha passado, já a tosse manteve-se durante cerca de uma semana e meia... O grande problema era evitar que o Gui entrasse em contacto com o Martin e cumprisse direitinho com a lavagem das mãos, o tossir para o cotovelo, o evitar o contacto até connosco...

O R., desde o primeiro dia, passou a dormir no quarto do Gui, e assim foi durante 15 dias, o tempo de uma quarentena... Apesar de tentarmos ao máximo proteger o Martin, no dia seguinte do Gui ter ido à Pediatra, o Martin começava também a ter tosse seca... Andou uns três dias assim, depois passou a tosse produtiva.... Nunca fez febre... Até que uma semana depois, exatamente no dia 1 de Abril, o quadro do Martin agravou-se, começou a ficar com bastantes secreções e uma respiração ruidosa e abdominal... Liguei à Pediatra e no mesmo dia tivemos consulta... Depois de ser avaliado, a Pediatra confirmou o que era quase previsível: muito provavelmente o Martin estava infectado com o mesmo vírus que o Gui, além disso tinha uma bronquiolite e uma otite.

Apesar deste quadro, e por incrível que possa parecer, o Martin apenas tinha alterações a nível respiratório, o resto estava em excelente forma: nunca teve febre, nunca perdeu o apetite, nunca vomitou e manteve sempre a energia a 100%! Foi medicado com uma série de medicamentos, entre eles um antibiótico, e tomou a medicação da forma mais exemplar possível.

Confesso que a energia contagiante do Martin foi o que mais nos inspirou e deixou optimistas. Não vou negar que tivemos receio que algo pudesse correr menos bem, até porque à medida que o tempo passava, o panorama aqui em França não era o mais animador...

 

Contamos apenas a algumas pessoas o que estávamos a vivenciar, e só o fizemos porque era impossível esconder a tosse do Gui e do Martin cada vez que falávamos em videochamada...

E se por um lado procuramos proteger os outros para não se preocuparem connosco, por outro sentíamos uma vontade enorme de contar a toda a gente aquilo que estávamos a vivenciar pois queríamos que as pessoas vissem que isto não acontece só aos outros.

 

Felizmente, a nossa história teve um final feliz, mas existem muitas outras que não tiveram a mesma sorte, daí que seja fundamental mantermo-nos unidos na luta deste inimigo invisível porque o fundamental é prevenir!

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NÃO ACONTECE SÓ AOS OUTROS - PARTE 1

Fez ontem 8 semanas que ouvi o que não queria ouvir: o Gui estava infectado com a Covid-19.

Começou com uma tosse seca numa sexta-feira, enquanto dormia, três dias depois do governo francês ter decretado a quarentena obrigatória...

Lembro-me, como se fosse hoje, de comentar com o R. que aquela tosse repentina era estranha... No domingo a febre dava sinal de que algo não estava bem... A tosse seca passava a produtiva (tinha bastante expectoração), a febre mantinha-se, juntamente com um certo cansaço e uma perda de apetite... Na terça, decidimos ligar à Pediatra porque suspeitava que estivesse infectado com algo e podia contaminar o Martin...

Assim que chegamos ao consultório e foi examinado, ouvi da Pediatra o que mais temia: o Gui estava infectado com a Covid-19, e a probabilidade disso ser verdade era de 98%.

 

Como raio o Gui tinha ficado infectado? Teria sido na última ida à Pediatra para a consulta dos 8 meses do Martin? Teria sido no aeroporto quando regressámos de Portugal? Ou teria sido o R. que tinha trazido o vírus para casa? Estaria mesmo infectado?! Nem imaginam quantas perguntas passaram na nossa cabeça... Perguntas às quais sabíamos que não teríamos respostas...

 

Será que também estávamos infectados?! Eu e o R. andávamos com algumas dores de cabeça e musculares (mais a nível cervical) há alguns dias, mas confesso que nem valorizamos... O Martin estava aparentemente óptimo... Mas apesar de todas as dúvidas que tínhamos, ficamos apenas com as nossas suspeitas porque nenhum teste de despitagem foi feito, porque simplesmente ninguém fazia.

O importante era continuar a vigiar o estado geral do Gui, e ver se a febre desaparecia, no máximo, até ao sábado seguinte, caso contrário teria que ser reavaliado... 

 

Saímos do consultório directos à farmácia com a Pediatra a reforçar a importância do isolamento social e do uso da máscara cirúrgica, como forma de evitar contaminar os outros...

 

Fomos à farmácia e embora soubéssemos que as máscaras estavam esgotadas para o público, coloquei em questão a gravidade de estarmos ali sem qualquer protecção... De imediato, e de uma forma discreta, a farmacêutica ofereceu-me quatro máscaras cirúrgicas descartáveis... Coloquei uma, e tentei explicar ao Gui que era importante ele colocar também... Nesse instante vi o pânico nos olhos do Gui, senti que estava  com medo, começou a chorar de forma descontrolada, e ficou impossível falar com ele... Só queria sair logo dali e entrar em casa... 

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Pelo caminho, tentei explicar ao Gui o que se passava, mas ele simplesmente não queria ouvir... Arrancou a máscara e disse-me que não a queria colocar mais...

 

Chegamos a casa e revelei ao R. o que a Pediatra tinha diagnosticado ao Gui, mas o R. mostrou-se incrédulo a este diagnóstico... Sabíamos que existia essa possibilidade porque as coisas "não acontecem só aos outros", mas não queríamos acreditar que poderíamos estar contaminados... 

Agora era tentar tomar todas as medidas para que o Gui ficasse logo bom e o Martin não ficasse contaminado também...

(Mas isso ficará para contar no próximo post)