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As Nossas Voltas

A vida dá muitas voltas, e foi numa dessas voltas, que nos tornamos emigrantes e viemos parar a Paris. Um blog sobre um pouco de mim, um pouco de nós, o dia-a-dia e não só.Simples mas cheio de ternura e dedicação!

As Nossas Voltas

A vida dá muitas voltas, e foi numa dessas voltas, que nos tornamos emigrantes e viemos parar a Paris. Um blog sobre um pouco de mim, um pouco de nós, o dia-a-dia e não só.Simples mas cheio de ternura e dedicação!

O DIA EM QUE O NOSSO MUNDO TREMEU - PARTE 3

UMA DIRECTORA DO RAM DESCOMPENSADA

Passamos o fim-de-semana incrédulos com o que tinha acontecido e só queríamos dar por encerrado este problema o mais rapidamente possível...

 

A carta de rescisão do contrato foi enviada no sábado logo de manhã, pelo R., mas na segunda-feira à hora do almoço já eu recebia uma mensagem de voz da directora do RAM, com um tom ameaçador, a dizer-me que a Aurélie ainda não tinha recebido nenhuma carta, que não percebia o que tínhamos contra ela, que tínhamos que lhe pagar os direitos, que ela lhe tinha dito que nós nunca lhe entregamos os recibos de pagamento do seu ordenado, que se calhar nós nunca declaramos a ama, e que se não fizéssemos tudo direito iriam recorrer ao tribunal do trabalho (em francês, prud'hommes)...

Nem queria acreditar em todas as barbaridades que ela me tinha dito... Como podia ela estar a fazer este tipo acusações contra nós?! Liguei-lhe de imediato e comecei a dizer-lhe que não compreendia o que se estava a passar, que a carta já tinha sido enviada e que teriam agora que aguardar pelos correios, que tudo foi sempre devidamente declarado, que se não demos os recibos foi porque não era uma obrigação nossa (ela podia imprimir directamente do site do centro de emprego), e que se havia alguém que tinha falhado com as suas funções não éramos nós, mas sim a Aurélie... Mal terminei de finalizar a última frase, a directora do RAM disse-me que o problema era eu, que não gostava da Aurélie e tinha implicado com ela desde o início... Preferi respirar fundo e terminar a conversa por ali porque sabia que não adiantava acrescentar mais nada...

 

Cerca de uns dois ou três dias depois, e tal como tinha ficado combinado, dirigi-me ao RAM com o Gui para levantar os pertences dele, que a Aurélie tinha deixado, e para verificar se os documentos e as contas estavam bem feitas... E mal entrei na sala fiz questão de demonstrar o meu descontentamento com a falta de confiança na nossa palavra... No mesmo instante, e sem eu estar à espera disso, a directora do RAM olha para mim com um ar maquiavélico e diz-me: 

- "Sabe, D. Patricia, eu e a Aurélie sabemos perfeitamente que o seu marido no outro dia estava completamente do nosso lado, bastava olhar para ele... Já reparou que ele não disse uma única palavra?! Reagiu assim para não ter que a contrariar... Vê-se perfeitamente que você é quem manda em casa e têm sérios problemas de família.... E digo-lhe mais, NUNCA VAI ENCONTRAR UMA AMA PARA O SEU FILHO, E SABE PORQUÊ?! Porque a senhora nunca vai deixar nenhuma mulher se aproximar dele, você cria uma espécie de bolha que faz com que ninguém se possa aproximar dele..."

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Fiquei petrificada a ouvir todas aquelas barbaridades, respirei fundo, e sem descer ao nível dela, o nível mais rasco que eu nunca imaginei que ela fosse capaz de chegar, interrompi-a e disse-lhe:

- "Não admito que fale assim de mim e da minha família. A senhora não nos conhece de nenhum lado, nem sabe a relação que eu tenho com o meu marido. É óbvio que o meu marido nunca esteve do fosse lado, vocês sabem perfeitamente que se ele não falou porque não se sente à vontade para se exprimir em francês, e vocês sabem disso desde o início, principalmente a Aurélie. São acusações graves que acaba de fazer. Vamos terminar aqui a conversa porque eu só estou aqui para tratar de burocracias, não para falar de um assunto que já vi que não vale a pena discutir mais."

Mal acabei de dizer isto, a cara dela mudou completamente e com o ar mais cínico passou do ar de bruxa para o ar de donzela... Fizemos os cálculos, entreguei os papéis que tinha que entregar, e quando vinha embora disse-me com o ar mais cínico e com o sorriso mais amarelo: 

- "Boas férias em Portugal. Aproveitem muito..."

 

Entrei no carro, com uma vontade enorme de a mandar à M****, nem queria acreditar o que se tinha passado ali naquelas 4 paredes... Estava completamente incrédula com as palavras que ela me tinha dito... Liguei ao R. e contei-lhe o sucedido e disse-lhe que o melhor que tínhamos a fazer era tentar esquecer este pesadelo porque era demasiado cruel para ser verdade... Além disso, quem é que iria acreditar em nós?! Dois portuguesitos perdidos no meio destes abutres?!...

 

Nunca mais tornamos a falar para aquelas senhoras, e felizmente nunca mais se cruzaram no nosso caminho... Mas esta primeira experiência deixou-noscompletamente horrorizados e ficamos com "pena" das crianças que iriam ficar nas mãos daquela psicopata... Ainda por cima, naquele ano, a directora do RAM tinha ficado também directora da creche, o que para nós só nos ajudou a tomar a decisão de mudar de casa longe dali... Agora era hora para tentar tranquilizar o Gui e encontrar uma ama  para depois das férias de Verão... Estávamos mais exigentes e os critérios de selecção tinham mudado...

 

(continua e termina na próxima segunda-feira)

CONTADO NINGUÉM ACREDITA

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Este fim-de-semana o meu pai fez anos, e como já tem vindo a ser habitual, depois que o Gui nasceu, a família mais próxima veio até cá para festejarmos o dia juntos... Foram 3 dias muito bem passados, não fosse o Gui ficar doente...

 

Tudo começou no sábado, com febre, alguma tosse seca, e uma certa irritação por parte do Gui... Ao princípio pensávamos que era por ele andar eufórico com tanto movimento cá em casa, mas com o passar do tempo vimos que afinal era o início de uma virose qualquer... A febre passou a ser contínua, a tosse seca passou a tosse produtiva, com diarreia e noites mal dormidas... Enfim, na segunda decidimos que o Gui devia ser avaliado por um médico...

 

Infelizmente não haviam vagas na médica de família, nem no chamado "SOS Médecin" (um serviço que existe aqui para evitar ir às urgências dos hospitais)... Fui à internet, procurei por uma vaga num site muito conhecido, que existe para esse efeito, chamado Doctolib, e encontrei uma vaga num suposto Pediatra, a 30 km de casa, às 20h... Vasculhei na internet se haviam avaliações deste médico, e encontrei boas recomendações... Sem hesitar, marquei a consulta e avisei o R. que íriamos então juntos...

 

Como não havia um lugar de estacionamento próximo do Gabinete de Pediatria, eu e o Gui saímos do carro e entramos para a sala de espera, enquanto o R. foi estacionar o carro... Rapidamente fomos chamados, tão rápido que nem o R. teve tempo de entrar connosco...

 

Confesso que mal entramos no consultório, fiquei com uma impressão estranha do médico... Havia qualquer coisa "bizarra" (como dizem os franceses... Lol...)... O olhar, a maneira de estar... Enfim... Um conjunto de coisas...

 

Comecei por explicar que estava preocupada com o Gui pois andava, desde sábado, com febre, perda de apetite, diarreia, tosse e mal-estar geral... Contei inclusivé que tinha feito 39.3 de temperatura às 17h30, mas que devido ao paracetamol ele estava muito mais enérgico naquele momento... Olhou para mim, e a primeira reacção foi: "e veio de tão longe só por isso?!"... Preferi nem comentar aquela pergunta tão parva, pois estava mais interessada que o Gui fosse examinado... 

 

Pesámos o Gui (15kg), medimos (98cm) e rapidamente examinou os ouvidos e a garganta... Sentia-me tão "deslocada" que, para ser sincera, nem me lembro se ele auscultou os pulmões ao Gui... Depois de fazer esta avaliação rápida, deslocou-se a um armário e pegou numa caixa branca cheia de bocadinhos de chocolate... Abriu a caixa e ofereceu ao Gui... O Gui, com o ar mais desconfiado, que a própria mãe (eu, Lol...), não aceitou aquela oferta estranha, e eu senti-me na obrigação de lhe dizer que ele não gosta de comer chocolates... Que ideia a dele... Não percebi porque carga de água se lembrou de oferecer chocolate... Sentou-se na secretária,  escreve a receita médica e diz que o Gui tem uma inflamação a nível pulmonar e que por isso tem febre... O cúmulo é quando indica estes dois tratamentos que deve fazer, e ainda os escreve na receita médica:

- continuar a dar o paracetamol xarope para 15kg (dose indicada na seringa, e seguindo o peso do Gui) de 4 em 4 horas, mas para ser ainda mais eficaz a dose ideal é a de 22.5kg de 6 em 6 horas (50% a mais do peso dele!!!);

- e correr 10 a 15 minutos, três vezes por dia, antes das refeições, para tossir, eliminar a expectoração e ganhar apetite!!!

Acho que naquele instante não consegui esconder a minha cara de parva com tantas parvoíces juntas... Peguei na receita, e depois de dar o cartão de saúde, peguei no Gui e saí incrédula com toda aquela palhaçada... Nem consegui dizer que não concordava com nada do que ele estava a dizer... Saí para fora, e o R. estava à nossa espera... Contei-lhe sobre o sucedido, e acreditem que mais parecia que eu estava a inventar toda aquela história ou que não tinha percebido nadinha de nada do que ele tinha dito... 

 

Fomos para casa incrédulos com tudo, e durante os cerca de 30 minutos de viagem para casa, só falamos disto... Nem à farmácia fomos pois tínhamos tudo o que estava prescrito naquela receita... 

 

No dia seguinte, e porque o paracetamol estava também a acabar, dirigi-me à farmácia perto de casa para levantar os dois medicamentos que estavam na receita médica... A cara de espanto do farmacêutico foi imediata, depressa me questionou para quem era aquela receita e que idade e peso afinal tinha a criança em questão... É óbvio que acabei por contar como tudo se passou, e garanti ao farmacêutico que jamais tivemos a intenção de dar uma dose maior de paracetamol do que o peso do Gui, mesmo quando o Pediatra nos prescreveu outra dose... Fartou-se de rir quando viu a prescrição de correr antes das refeições, e até em jeito de piada me perguntou qual era o truque do Pediatra para conseguir colocar uma criança doente de 2 anos a correr 10 a 15 minutos antes das refeições...

 

Infelizmente, o farmacêutico acabou por me contar que existem muitos médicos, Pediatras e não só, que todos os dias fazem prescrições escandalosas. Nesses casos,  eles ligam para os médicos para terem certeza daquelas anormalidades, e a maior parte das vezes acabam por ser insultados... No final, a farmácia não fornece o medicamento e faz uma sinalização à Segurança Social, mas mesmo depois de inúmeras denúncias, existem muitos maus profissionais que continuam a exercer a profissão e a colocar a vida das pessoas em risco!

 

Neste tempo que estamos cá já tinha chegado à conclusão que é preciso ter sorte para encontrar um bom médico, já suspeitava que existissem maus profissionais pois, infelizmente, cruzei-me com alguns... Mas ouvir o farmacêutico a confirmar isto foi, sem dúvida, assustador... No final, acabou por me indicar o nome de uma Pediatra da cidade e aconselhou-me a nunca recorrer a médicos que têm logo vagas disponíveis, pois esses são para desconfiar e fugir deles!!!

 

Como vêem, os maus profissionais estão em todo o lado, é preciso é estarmos atentos e, em caso de dúvidas, não hesitar em pedir uma segunda opinião! 

OS MAUS PROFISSIONAIS ESTÃO EM TODO O LADO

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Ainda não vos tinha contado mais uma peripécia (se é que lhe podemos chamar assim) que me aconteceu da última vez que o Gui teve consulta com a Pediatra... 

 

Nesse dia chegamos à consulta 15 minutos mais cedo da hora marcada, porque tive a sorte de conseguir um lugar de estacionamento no mesmo instante que cheguei à Clínica. A consulta estava prevista para as 15h, mas só entramos para o consultório cerca de 25 minutos depois... A Pediatra parecia apressada, pediu-me logo as vacinas (aqui nós é que compramos as vacinas na farmácia com a devida prescrição médica), comecei a despir o Gui enquanto ela começava a preparar as vacinas para serem administradas... Dei a entender que era melhor pesar e medir o Gui antes, pois talvez depois fosse mais complicado.... Ela concordou de imediato e lá pesamos e medimos o Gui... Apenas auscultou o Gui e no minuto a seguir passamos às vacinas... Felizmente tudo correu maravilhosamente bem, e o Gui nem chorou (benditos pensos de lidocaina que são aplicados sempre uma hora antes)... Mal acaba de dar as vacinas, pergunta-me como vou pagar (se em dinheiro ou cartão), e eu lá lhe respondo, enquanto começo a vestir o Gui numa "verdadeira luta"... O Gui estava super excitado com o papel da marquesa e só queria rasgar o papel, e diga-se de passagem que fartou-se de rasgar papel e conseguiu deixar as marcas da sua passagem no consultório... Havia papel em todo o lado! (Eh... Eh... Eh...)

 

Ainda só lhe tinha vestido o bodie quando a médica me pediu se podia acabar de vestir o Gui na sala de espera porque estava atrasada nas consultas... Nem queria acreditar no que ela acabava de me dizer, e juro que pensei que tinha percebido mal... Dirigi-se a mim e, em vez de me ajudar a vestir o Gui, começa a pegar na roupa do Gui e a colocá-la dentro do saco dele... Foi aí que percebi que tinha percebido muito bem, mas perante tamanha lata fiz que não percebi e acabei por vestir o Gui no consultório...

 

Com tanto stress, quando me dirigi a ela para pagar, com cartão multibanco, esqueci-me do código do meu cartão e falhei nas duas tentativas! A pressa dela era tanta que por ela podia pagar na próxima consulta, nas eu preferi sair e assim que acabasse a próxima consulta eu entraria para pagar, pois de certeza que me iria lembrar. Saí, e passados uns 10 minutos, a consulta tinha acabo, paguei e ao sair reparei que não havia mais nenhum bebé/criança na sala de espera.

 

Confesso que vim-me embora incrédula com tanta insensibilidade, e com tanta falta de profissionalismo, e só não lhe disse nada porque várias foram às vezes que cheguei uns minutos atrasada e ela não barafustou... Felizmente, como se trata de uma Clínica, há mais que um Pediatra, e eu nunca fiz questão de dizer que queria uma consulta com "esta ou aquele" porque, felizmente, o Gui foi sempre super saudável e as consultas que fomos tendo foram sempre de rotina. 

 

A partir de agora farei questão de escolher o Pediatra quando marcar nova consulta pois acho inadmissível o que ela me propôs, ainda por mais quando a sala de espera das consultas de Pediatria é na entrada principal da Clínica junto com consultas de adultos de diferentes especialidades!

 

Tudo isto para dizer que os Maus Profissionais estão em todo o lado!