RECORDAR É VIVER
Emigrantes em Paris
Faz hoje exactamente 8 anos que chegamos aqui a França para dar início a uma das maiores voltas da nossa vida...
Saímos da casa dos meus pais, exactamente no dia 3 de Agosto, no meu Peugeot 206 comercial, em pleno Verão, com as temperaturas a rondar os 35 graus... Lembro-me do imenso calor que passamos porque não tinhamos ar condicionado... Pernoitamos em Bordeaux, e chegamos ao nosso destino num domingo... No dia 4 de Agosto de 2013...
Lembro-me desse dia como se fosse hoje, cheios de medos e incertezas... E uma desilusão imensa com o que encontramos... Afinal, aquilo que tinhamos idealizado não correspondia ao que tinhamos encontrado... Ruas sujas, casas que mais pareciam abandonadas, e gente que parecia que não conseguia "ver os outros"... À medida que nos íamos aproximando do nosso destino descobrimos que o hospital ficava num local bastante isolado...
Dirigimo-nos directamente ao hospital onde ía começar a trabalhar, e no meu francês "tremido", dirigi-me à recepção e tive uma recepção surreal... Mal sabiam da minha chegada e nem sabiam do código da porta de entrada do edifício onde ía ficar... Ligaram para um serviço onde estava uma enfermeira portuguesa a trabalhar, para saber se se lembrava do código, mas também não se lembrava... Depois, ela ligou para alguém que ainda morava lá e conseguimos o código...
Entregaram-me um saco com roupa da cama, deram-me as indicações para ir para o apartamento e as chaves do apartamento...
O meu coração "batia a mil", e se houve um momento que duvidei do que tinhamos feito foi exactamente naquele instante em que senti que agora apenas erámos os dois... O momento tinha chegado: agora só tinhamos que lutar para tudo dar certo...
A boa surpresa foi descobrir que tinha um estúdio reservado só para mim, por isso o R. iria poder ficar comigo, mesmo que não fosse "oficial"... A má foi ver o estado em que me entregaram o apartamento: cheio de pó, com as janelas abertas e uma temperatura interior a rondar os 30 graus!
Tinhamos alugado uns quartos durante os primeiros 12 dias, porque o hospital tinha dito que o R. não podia morar comigo enquanto que estivesse no alojamento do hospital, pois iria viver com outras enfermeiras... Felizmente, conseguiram dar-me um estúdio e os planos acabaram por sair melhor do que pensávamos...
No dia seguinte, apresentei-me no hospital, onde a Directora dos Cuidados de Saúde estava à minha espera, fui apresentada ao serviço e à tarde fomos os dois, pela primeira vez a Paris, onde tive a entrevista na Ordem dos Enfermeiros, com um dos conselheiros da Ordem.
Comecei a trabalhar exactemente no dia 7 de Agosto... Os primeiros dias foram, sem dúvida, os mais difíceis, entre dominar a língua, a integração no local de trabalho, e a nossa instalação/limpezas no estúdio, mal tínhamos tempo para dormir...
O R. ainda voltou a Portugal, tal como tinhamos planeado, para depois regressar de vez... Dois meses depois tinhamos arranjado trabalho também para ele, e eu tinha o meu contrato indeterminado na mão... A partir daí sabíamos que tudo iria depender apenas de nós dois...
Moramos uns meses ali, mesmo ao lado do hospital, mas foi quando nos mudamos para o nosso apartamento que sentimos que a partir dali as coisas eram "afinal mesmo a sério"...