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As Nossas Voltas

A vida dá muitas voltas, e foi numa dessas voltas, que nos tornamos emigrantes e viemos parar a Paris. Um blog sobre um pouco de mim, um pouco de nós, o dia-a-dia e não só.Simples mas cheio de ternura e dedicação!

As Nossas Voltas

A vida dá muitas voltas, e foi numa dessas voltas, que nos tornamos emigrantes e viemos parar a Paris. Um blog sobre um pouco de mim, um pouco de nós, o dia-a-dia e não só.Simples mas cheio de ternura e dedicação!

"O MENINO MAU"

Lembram-se da minha vizinha que me ligou para saber se estava tudo bem connosco?! Para quem não se lembra, podem sempre voltar a ler o post aqui, para quem está a par, hoje venho contar como ela tinha o meu número de telemóvel...

 

Quando o Gui entrou na escola Maternelle, reparei que bem pertinho do nosso lugar de garagem estacionava a mãe de um menino da escola do Gui... Uns meses mais tarde, cruzamo-nos na garagem com os miúdos e confirmamos então que os dois andavam juntos, e por iniciativa dela trocámos de números de telemóvel para mais tarde podermos ir a um sítio juntos, de forma a eles poderem brincar...

 

Entretanto o tempo foi passando, a Pandemia pareceu-se e nunca o chegamos a fazer... Até que o ano passado, a escola começou novamente e eles continuram na mesma turma... Quando perguntava ao Gui sobre aquele menino, ele dizia sempre que era um "menino mau", mas nunca valorizei aquelas palavras... Até que um dia fui buscá-lo à escola e o Gui disse-me que o tal menino lhe tinha mordido num dedo da mão... Olhei para a mão dele e como não vi nenhuma marca achei que teria sido uma brincadeira entre eles... No entanto, à noite, quando o Gui foi tomar banho, reparei que tinha uma grande mordidela logo abaixo do joelho, perguntei-lhe quem tinha sido e ele respondeu que tinha sido o tal menino...

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O meu coração de mãe congelou e fiquei a imaginar a dor que o Gui devia ter sentido naquele momento... Expliquei-lhe que aquilo era muito grave e perguntei-lhe se ele tinha dito a alguém na escola... Fiquei incrédula como é que ninguém tinha visto aquilo e comecei a ficar preocupada por ele não dizer a ninguém que lhe tinham feito mal.

Nesse mesmo dia, enviei uma fotografia e um e-mail à professora, que me ligou e que me confirmou que não tinha conhecimento de nada. Disse-lhe que conhecia a mãe do menino, mas não sabia como ela ía reagir se fosse eu a falar-lhe do assunto, por isso fiquei à espera que a professora tomasse uma atitude...

Os dias passaram, e comecei a ver que o Gui não queria levar determinadas roupas ou gorros para a escola porque o tal menino fazia-lhe mal... Expliquei-lhe que não podia ficar quieto, que tinha que se afirmar e dizer ao tal menino para parar de lhe fazer mal... Um dia o Gui chegou com o gorro desfeito de um dois lados e eu tornei a enviar um novo e-mail à professora... Uns dias depois ligou-me e, para o meu espanto, perguntou-me se tinha falado com a mãe do menino... Expliquei-lhe que o mais correcto seria a escola alertar porque a situação começava a ficar grave, e eu não queria que o Gui ficasse com medo de ir para escola. Nesse mesmo dia a professora ligou para a mãe do menino que me ligou uns minutos depois, toda alterada, porque não imaginava que o filho fizesse coisas tão cruéis... O pior foi o menino admitir que o fazia muitas vezes e que fazia mal ao Gui porque ele não se queixava nem chorava! 

A partir dali os episódio foram ficando mais espaçados, e eu fiquei mais atenta do que nunca. O pior disto tudo é o Gui pensar ainda hoje que aquele menino é o seu amigo, tanto que só fala dele!

 

Felizmente este ano, o Gui foi colocado noutra turma, e só pode ver o tal menino no recreio ou nós tempos livres... O meu maior receio foi sempre que o Gui crescesse com uma noção errada do que é uma verdadeira amizade porque o que ele precisa é de meninos que brinquem com ele e o integrem nas brincadeiras. Vamos lá ver se este ano consegue fazer novos amigos, para já o "menino mau" é o que ele considera seu melhor amigo...

MAUS TRATOS

Contado Ninguém Acredita

Nunca mais abordei a conversa que a directora da escola do Gui teve comigo em Abril, um dia antes do confinamento... Mais uma situação marcada pela negativa que ficará guardada para sempre na minha memória... Vamos começar do princípio para enquadrar melhor o que se passou...

 

Aqui em França, aos 3 anos, quando as crianças entram para a escola existe uma avaliação de saúde feita por um médico e uma enfermeira escolar que passam para avaliar os alunos, nomeadamente a visão... Com o aparecimento da Pandemia, o Gui não fez esses testes no primeiro ano que entrou, por isso a avaliação foi feita no início do segundo ano escolar, mais precisamente em Outubro de 2020. Nesse dia, quando fui buscar o Gui à escola, a professora do Gui abordou-me e falou-me que o Gui muito provavelmente teria sérios problemas de visão, segundo a avaliação que tinha sido feita pelos profissionais de saúde, e por isso teria que consultar com alguma urgência um oftalmologista...

 

Fiquei incrédula com aquela avaliação e comecei a imaginar o que teria realmente acontecido: o Gui super incomodado com aquela avaliação, a não olhar para ninguém e a não responder... E as pessoas a achar que ele não respondia porque não via nada! Típico do Gui: fora de casa super tímido e mudo e dentro de casa exactamente o oposto! Expliquei à professora que não estava convencida com aquele resultado mas que iria consultar um oftalmologista rapidamente...

 

E assim foi, marcamos consulta no primeiro oftalmologia de crianças que nos apareceu disponível, e naquele dia tirei as dúvidas: mal entrou no consultório o Gui não disse uma única palavra e mal olhava para a pessoa que o estava a avaliar...

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Nem imaginam como me senti mal, tinha -lhe pedido para colaborar, e até lá dentro quase lhe supliquei para dizer alguma coisa nem que fosse em português... Mas nada adiantou, não deu uma palavra, e a oftalmologista disse que faria então outra consulta mas teria que colocar umas gotas antes... Peguei na prescrição médica, e disse que depois marcava a consulta através do site, pois não conhecia as minha disponibilidades... Na realidade, não tinha gostado nadinha da forma como o Gui tinha sido abordado, cheia de pressas e sem qualquer empatia, mesmo eu explicando previamente como ele era...

 

Entrei no carro e o Gui começou e dizer tudo o que tinha visto, e questionei-o porque motivo não tinha respondido dentro do consultório... É óbvio que não me deu nenhuma justificação plausível, mas eu sabia como ele era e estava consciente que tínhamos um trabalho difícil pela frente...

 

Expliquei à professora o sucedido e disse-lhe que não o ía levar de imediato a outra consulta, que preferia esperar mais um meses até eu o sentir menos tímido, porque este isolamento social todo não o tinha ajudado em nada, que seria mais uma perda de tempo e dinheiro se o fizesse novamente num curto espaço de tempo... Reforcei-lhe que não achava que ele tivesse problemas graves de visão, e que se os tivesse seriam mínimos pois nunca vimos nada de anormal nele... A professora parecia ter concordado, e nunca mais tornou a falar do assunto...

 

Passados 6 meses, a "enfermeira escolar" voltou a passar na escola e fez uma reflexão escrita de que o Gui provavelmente "precisaria de óculos porque escrevia com a cabeça muito colada à folha"... Comecei a imaginar de novo o motivo de tal comportamento: "não querer ser visto ou simplesmente esconder-se... Como seria a abordagem feita por aquela enfermeira?!"...

Naquela semana, fui à escola saber da avaliação do Gui e, sem eu abordar o assunto, a professora disse que também achava que o Gui não tinha nenhum problema de visão grave...

O mais estranho é que uns dias mais tarde a directora da escola teve um comportamento inesperado... Nesse dia, vou levar o Gui à escola, e a directora chama por mim e diz-me que precisa urgentemente de falar comigo porque o Gui tem problemas sérios de visão e eu não me preocupo em levá-lo a um especialista... Por isso, se continuar assim será obrigada a fazer uma "sinalização de maus tratos"!

Nem queria acreditar no que acabava de ouvir, e por uns segundos respirei fundo para não perder a razão, e disse-lhe que achava muito estranho as acusações que ela acabava de me fazer quando na semana passada a professora do Gui tinha falado comigo... Tive que lhe dizer que também eu era profissional de saúde, e se estava a agir assim era por conhecer o meu filho, e que se havia alguém preocupado com ele, era eu!

O cúmulo foi quando ela ainda teve a lata de me dizer que se eu era profissional de saúde ainda era mais grave pois devia estar mais atenta!!! Mais atenta ao quê?! Nem sei como não me passei quando ela fez estas insinuações... E embora estivesse revoltada por dentro, mantive o meu ar super calmo e seguro... Falei-lhe do quanto era difícil colocar o Gui a falar com estranhos, expliquei que era impossível força-lo a falar quando ele simplesmente não queria e disse-lhe que até para mim era muito complicado esta situação porque não compreendia porque motivo ele era assim fora de casa... E disse-lhe que esta Pandemia era a grande responsável por tudo isto pois vivíamos muito isolados agora. No final, disse-lhe que iria marcar uma nova consulta, mas num oftalmologista de confiança, indicado pela Pediatra do Gui, mas que não podia prometia nada...

 

Entretanto, fui à Pediatra do Gui e contei-lhe o sucedido, também ela ficou indignada com aquelas acusações vindas de uma directora de uma escola... A Pediatra ainda tentou ligar para a "enfermeira escolar" para tentar perceber o que se passava mas não estava a trabalhar naquele dia, por isso uns dias mais tarde liguei eu e falei com ela... Enquanto isso, e no mesmo dia, a Pediatra tentou fazer um teste simples de visão, mas mais uma vez o Gui nem uma palavra deu... Gentilmente a Pediatra emprestou-me o material para fazer o teste e disse para eu fazer em casa e o R. filmar para ela ver o resultado... E assim foi, em casa o Gui respondeu tudo direitinho...

 

Mesmo assim, estava determinada a marcar uma nova consulta de oftalmologia, desta vez alguém que tivesse referências... Liguei para a Oftalmologista que a Pediatra me aconselhou e conseguimos consulta 3 meses depois...

 

Quanto à Enfermaria escolar não me inspirou confiança nenhuma, mal me deixou falar, e ainda me aconselhou levar o Gui a um psicólogo porque ela já tinha feito centenas de testes e nunca tinha encontrado uma criança como o Gui, e que não tinha que me sentir mal em pedir ajuda a uma psicóloga pois também ela tinha levado uma vez a filha dela... Sem me conhecer, sem me deixar falar, fez uma série de observações que me deixaram completamente estupefacta, disse-lhe que o problema disto tudo era estarmos isolados/confinados há mais de um ano e que o mais grave disto tudo foi ter a directora da escola a ameaçar-me com uma sinalização de maus tratos!!! 

 

O resto da história fica para um próximo post...

A PRIMEIRA SEMANA DO GUI NA ESCOLA

Começamos a Escola com uma semana de atraso, e tínhamos muito receio que o Gui fosse penalizado por não ter estado presente na semana de integração... Felizmente tudo parece correr bem e, ao fim de quatro dias de aulas, o Gui já diz que "a escola é mesmo fixe"!

 

Hoje acordou e apenas disse uma vez que não queria ir à escola, desvalorizei aquela frase negativa e disse-lhe que tinha que tomar o pequeno-almoço para não ficar com fome e poder brincar com os novos amigos... A partir dali foi tudo demasiado simples, tão simples que até estranhei tanta vontade para regressar à escola depois de um fim-de-semana de festa cá em casa... Saiu do carro todo contente, pegou na mochila e no seu doudou, e dirigiu-se para escola apressadamente, entrou na sala de aula timidamente sem eu lhe dizer nada e nem olhou se quer para trás para me dizer um "até já"... No final do dia estava todo contente por ter estado na escola a brincar e disse até que amanhã queria ir para a escola outra vez!

 

Parece que o Principezinho Gui está mesmo muito crescido, e se em casa é um verdadeiro pestinha, na escola parece o "Anjinho Gabriel"... (Eh... Eh... Eh...) Agora é torcer para que tudo continue no bom caminho!

 

E por aí, como foi esse início de aulas?

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