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As Nossas Voltas

A vida dá muitas voltas, e foi numa dessas voltas, que nos tornamos emigrantes e viemos parar a Paris. Um blog sobre um pouco de mim, um pouco de nós, o dia-a-dia e não só.Simples mas cheio de ternura e dedicação!

As Nossas Voltas

A vida dá muitas voltas, e foi numa dessas voltas, que nos tornamos emigrantes e viemos parar a Paris. Um blog sobre um pouco de mim, um pouco de nós, o dia-a-dia e não só.Simples mas cheio de ternura e dedicação!

LEGALIZAR UM CARRO EM PORTUGAL

Quando regressamos, trouxemos os nossos 2 carros para legalizar cá em Portugal, toda a gente nos perguntava se íamos ser nós a fazê-lo e, para mim, não fazia sentido não sermos nós, mas tenho que confessar que as pessoas tinham razão quando nos diziam que o processo não era assim tão simples...

Na minha cabeça era impensável não ser eu a fazê-lo pois se tinha legalizado 2 carros em França, país este que não era o meu e língua esta que não era a minha materna, como raio não iria conseguir fazer o mesmo no meu país?!

Fomos à Alfândega mal chegamos de França, para perceber o tipo de documentação que precisaríamos e o tempo que teríamos para o fazer: mil e 1 documentos e 12 meses!

Achei que seria mais fácil fazer 1 de cada vez, por isso, em Fevereiro dei início ao processo... Foram precisos quase 3 meses, foi exactamente hoje que recebemos o Certificado de Matrícula!

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As burocracias, e afins farei questão de as partilhar num outro post com vocês, de forma a poder ajudar outras pessoas que se deparem com algo semelhante. As informações que nos foram dadas na Alfândega não foram nada claras, sem falar da pessoa que me atendeu, que jamais me esquecerei da forma antipática e arrogante que falou comigo...

Hoje, olho para trás e até tenho um certo orgulho em ter conseguido fazer a legalização do carro, agora vamos ver se o segundo será mais rápido pois sei exactamente o que é preciso fazer... Mas também sei, por experiência, que "eles adoram complicar a vida das pessoas"....

QUEM AMA FICA ♥️

Faz pouco mais de 2 meses que mudamos a nossa vida novamente, voltando para Portugal...

Têm sido dias muito intensos, muitas coisas novas, muitas coisas que ainda não estamos integrados porque 9 anos em França fez com que perdessemos evoluções que aconteceram por aqui...

É engraçado as pessoas acharem que nós sabemos tudo, como se nunca tivessemos saído de cá...

Ainda hoje não sei muito bem como se paga a cantiga da escola do Gui... E enquanto que escrevo este post o meu cérebro alerta-me para o facto de ainda não ter pago uma única vez... Disseram-me que iria receber uma mensagem com o valor a pagar, mas o que é certo é que não recebi nada e o Gui tem almoçado na escola... Tenho que ver se realmente isto é normal...

Os pagamentos com Mbway não faço ideia como funcionam ainda...

A minha colega de trabalho, no outro dia, até me falou de uma aplicação para juntar todos os documentos importantes de forma a não andar com os "documentos sempre atrás"... 

Os sites dos bancos portugueses nada têm a ver com os franceses....

E as inúmeras aplicações que existem que toda a gente conhece e utiliza e eu nem imagino para que servem?! 

Quem pensa que Portugal está "atrasado em relação aos outros países da Europa" engane-se... Estamos é muito mais avançados, e quase sempre na linha da frente para inovarmos, somos realmente um povo que aceita facilmente a mudança, o que muitas vezes acaba por ser vantajoso.

Claro que há coisas que estão menos bem, mas no geral não estamos assim tão mal como se pensa por aí...

O que é certo, é que apesar deste "corre-corre" que tem sido os nossos dias, temos conseguido ser bastante felizes por aqui...

O Martin adora a escolinha dele e o Gui também anda super entusiasmado... Eu estou a gostar muito do que estou a fazer, e o R. também não tem razões para se queixar pois já começou a trabalhar também.

Além disso, temos a vantagem de estarmos a viver na casa dos meus pais, e assim será por alguns tempos, o que tem sido excelente para a nossa adaptação. O apoio dos meus pais foi sem dúvida fundamental principalmente da minha mãe que me substitui nos dias em que não posso levar ou buscar o Gui e o Martin, evitando assim que eles passem horas infinitas fora de casa, em tempos livres...

O Gui e o Martin sabem muito bem o que é estar quase 12horas fora de casa, e isso foi algo que eles apreciaram muito quando começaram a frequentar a escola daqui... Temos tido o privilégio de ter esta ajuda tão preciosa, e se a integração deles tem corrido às mil maravilhas, o mérito é claro que não se deve apenas a nós os 2, mas também à minha mãe!

Depois temos este clima maravilhoso, as praias e os rios que ficam a pouco mais de 5 minutos de carro, o silêncio do campo, toda esta natureza que nos envolve, as estrelas que podemos ver quando o céu à noite está limpo, a paz que sentimos quando fechamos os olhos e sabemos que estamos finalmente em casa, naquele lugar que um dia dissemos que iríamos viver para sempre e que sempre nos pertenceu...

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A ESCOLA DO GUI

Quem me segue sabe que o factor determinante para o nosso regresso a Portugal foi o Gui entrar este ano na escola primária, foi esse o objetivo que tínhamos traçado quando ele nasceu e foi exactamente isso que fizemos... 

A matrícula do Gui foi feita de acordo com as datas fixadas pelo Ministério de Educação, por isso soubemos desde cedo que ele tinha ficado na nossa primeira opção.

O Gui andava super motivado para as aulas começarem e nem a personalidade dele, super reservada, o fizeram mudar de ideias...

No primeiro dia de aulas apenas foram as crianças do primeiro ano, e só tiveram aulas da parte da manhã... Confesso que estava um bocadinho com receio de como ele ía reagir, mas felizmente correu super bem e ele entrou super confiante...

O segundo dia foi um bocadinho diferente pois estavam os 4 anos lectivos presentes, muitos alunos, muita confusão, mas uma recepção incrível com um ambiente de festa... Até o Martin adorou!

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O Gui ficou super bem, tímido, mas super confiante por estar na escolinha nova... Acho que a experiência que teve em França acabou por lhe dar outro tipo de ferramentas que serviram para ele ficar mais "forte e autónomo"...

Na escola o Gui sempre foi uma criança reservada, gosta de ficar no canto dele e sempre detestou confusões, gosta de observar tudo e todos e isso faz com que ele não faça amigos facilmente pois tem tendência a esperar que os outros venham ter com ele...

Confesso que às vezes o meu coração fica apertadinho pois fico com receio que ele possa sentir-se muito sozinho naquela escola tão grande... Mas depois lembro-me de mim, exactamente com a idade dele... Chegada da Venezuela, de uma guerra civil, sem falar uma única palavra em português, super timida e reservada, que gostava de observar e aprender... Talvez o Gui seja um bocadinho daquilo que eu fui, mas ele tem a vantagem de falar também português... 

E embora ele esteja a gostar muito da escolinha, ontem acabou por dizer que "os amigos que tinha em França eram mais fixes"... Tentei explicar-lhe que era perfeitamente normal ele sentir isso, pois acabamos de chegar e mal teve tempo de fazer amigos, além disso os meninos da escola conhecem-se todos pois já andaram juntos antes e ele é o menino que ninguém conhece... 

Agora é esperar para ver... Só o "tempo" trará novos amigos para o Gui... Até lá, o meu coraçãozinho continuará um bocadinho apertado pelo menos até eu saber que ele encontrou novamente o seu "lugar"...

VIDA NOVA ESCOLINHA NOVA

Martin

Hoje partilho com vocês a integração do Martin no Infantário...

Se estivéssemos ficado em França, teria entrado na "école Maternelle" tal como o Gui andou, mas como tínhamos planos para voltar fizemos a inscrição dele num infantário privado, o ano passado, onde tenho uma prima que é educadora de infância... Confesso que este foi o factor mais determinante na escolha do infantário pois com tantas mudanças na nossa vida, queríamos que a integração do Martin não fosse muito difícil pois ele estava numa ama... Por isso, assim que decidimos não hesitamos em fazer a matrícula num lugar onde conhecíamos alguém de forma ao Martin conseguir se sentir seguro.

E assim foi, o Martin foi para o infantário no dia 2 de Setembro, cheio de vontade de ir pelas maravilhas que lhe tínhamos contado, por ter a prima como Educadora e talvez pelo facto de saber que ía agora para uma escola tal como o mano...

Os primeiros dias choramingou um bocadinho com saudades nossas, mas depressa se adaptou àquele ambiente acolhedor... 

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Ao contrário da escola do Gui, em França, aqui há abraços, sorrisos e muita compreensão... Há caras conhecidas e simpáticas, olhares que confortam e palavras que nos transmitem segurança e confiança!

De facto a integração superou até as nossas espectativas de tão bem que correu.

Hoje o Martin chegou ao infantário, e mal viu uma das funcionárias, correu para os braços dela com o sorriso mais doce que possa existir! 

É tão bom sentir que os nossos filhos são felizes nos lugares onde os deixamos quando não podemos estar com eles.

E por aí, como foi?

Quanto ao Gui, ficará para o post de amanhã...

O UNIVERSO CONSPIRA A NOSSO FAVOR ❤️

Desculpem a minha ausência mas não tem sido fácil conciliar tantas mudanças na nossa vida...

Sabíamos que íam ser muitas mudanças, sabíamos que a nossa vida ía dar novamente uma volta de 360 graus, mas não fizemos planos a contar que um de nós fosse logo trabalhar...

A verdade é que essa possibilidade até existia mas nós nunca acreditamos muito nisso, e talvez lá no fundo sabíamos que isso não nos ía dar "muito jeito"... Mas a vida trocou-nos os planos e quis colocar-nos à prova... 

Na realidade, tinha aberto um concurso de Enfermagem na função pública em Fevereiro deste ano e eu tinha-me candidatado, e até tinha ficado numa boa posição... Sabia que, assim que saísse a lista dos classificados, podiam-me chamar a qualquer momento, mas quis acreditar que isso nunca iria acontecer antes de Setembro...

Mas o destino tinha outros planos para nós...

No dia das mudanças, cansada e incrédula com o que acabava de receber, abri um e-mail e vi que se tratava do meu futuro emprego... Respirei fundo e com o coração nas mãos disse ao R. que tinha acabado de ser colocada, e tinha apenas 24h para dar uma resposta... Confesso que fiquei com medo que não fossem "esperar por mim", pois tínhamos a nossa vida programada para os próximos dias e não podia agora deixar tudo para trás assim tão de repente... Felizmente, do outro lado, tive uma Enfermeira Directora super compreensível que permitiu que eu não perdesse "o meu lugar"... 

E assim foi, no dia 16 de Agosto, doze dias depois de termos chegado a Portugal, já estava eu a trabalhar!

No meio de caixotes, com a vida completamente do avesso, sem termos tido tempo de assimilar tudo o que nos estava a acontecer, começávamos uma nova aventura...

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Faz hoje exactamente 1 mês que comecei a trabalhar como enfermeira, 1 mês que comecei a trabalhar pela primeira na minha cidade...

Ao fim de 17 anos cá estou eu, pronta para abraçar esta nova aventura... Talvez seja a "aventura" que vai exigir mais de nós, pois temos que acreditar que vai dar tudo certo apesar dos obstáculos e das incertezas que sabemos que teremos que passar...

Há quem nos chame loucos, há quem ainda não acredite que viemos para ficar... 

Mas o que as pessoas talvez ainda não sabem é que somos suficientemente teimosos para levar este nosso plano até ao fim... Pois "quando desejamos muito alguma coisa o universo inteiro conspira a nosso favor!" (Paulo Coelho) ♥️

AU REVOIR PARIS ❤️

Faz pouco mais de 2 dias que deixamos para trás aquele que foi o nosso lar durante quase 9 anos...

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Foi precisamente na sexta-feira passada... Mas com tanta confusão e algazarra, ainda não tivemos tempo de assimilar tudo o que aconteceu até aqui...

 

A semana começou da pior forma possível quando a menos de 24h a empresa que devia fazer as mudanças nos informou que viriam apenas na quarta-feira à tarde, e não na terça-feira como estava programado... Naquele dia, se o meu coração não parou, pouco faltou... (É claro que estou a exagerar, mas que foi horrível foi....)

Tinhamos programado a entrega das chaves do apartamento para a quarta-feira de manhã, e à tarde era suposto chegarmos a Bordeaux, onde ficaríamos 2 noites para descansar, e dali o destino era conhecer Madrid...

Mas o destino não quis que fosse assim... Tive que ligar para a agência, explicar a situação, e pedir para adiar a nossa saída... Felizmente não colocaram nenhum entrave, tivemos que pagar mais um dia de "estadia" e as chaves apenas foram entregues na sexta-feira, às 15h...

Sexta-feira, o pior fim-de-semana para viajar de carro rumo a Portugal, o fim-de-semana onde a maior parte das pessoas parte de férias... Mas nós não estávamos em posição de reclamar...

 

A nossa preocupação principal era a empresa de transporte voltar a falhar connosco... Tinhamos o "coração nas mãos"...

Felizmente, na quarta-feira apareceram, não à hora marcada, mas sim da parte da manhã, sem que ninguém fosse avisado previamente... Apenas um amigo estava disponível, e a três acabamos por transportar tudo para o camião..

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Talvez esse tenha sido o pior dia... O dia em que stressamos mais... 

Depois veio a quinta-feira, ficamos sem electricidade porque era suposto já não estarmos ali... Tínhamos cancelado o contrato...

Ficamos 24 horas sem electricidade... Escusado será dizer que vivemos grandes aventuras a 4...

 

Na sexta, demos "ao litro" para acabarmos de limpar o apartamento e colocarmos tudo no carro...  E tal como programado, lá estávamos os 4, às 15h, prontos para entregarmos a chaves daquele que foi o nosso último lar...

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Dali, entramos no carro, suspiramos, e super cansados ainda fomos tratar de algumas coisas que tinham ficado pendentes...

No final do dia, fizemos um jantar em jeito de despedida com os nossos amigos, num restaurante francês...

Pernoitamos na casa deles, e de manhã tomamos o pequeno-almoço todos juntos... Entre beijos, abraços e lágrimas, despedimo-nos com o "coração bem apertadinho"... E dali, partimos em direção a Bordeaux...

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Foi mesmo estranho despedirmo-nos daquele lugar e de todas as pessoas que ali ficaram... Nem parecia que estávamos de férias, nem parecia que estávamos felizes por termos finalmente chegado a este dia... 

 

Acho que o cansaço que fomos acumulando ao longo destas últimas semanas acabou por nos deixar esta sensação de "vazio", pois não tivemos tempo de assimilar tudo o que estava a acontecer...

Por isso, achamos que seria vantajoso tirar uns dias de férias, em Bordeaux, de forma a recarregar baterias e poder enfrentar com mais energia todos os novos projetos que estamos prontos a abraçar...

A VIDA É FEITA DE ESCOLHAS

Nem imaginam a azáfama que tem sido desde Maio... Entre caixotes, artigos a publicar (para vender metade das nossas coisas), organizações de eventos, somado com as inúmeras "coisas do dia-a-dia", pouco tempo tem ficado para "respirar"... 

O meu cérebro anda a mil e o meu corpo lá tem conseguido acompanhar... Mas confesso que não tem sido nada fácil gerir tanta coisa... 

Nem tempo tive de festejar o nascimento do meu sobrinho... Mas sei que a minha irmã e o meu cunhado percebem as nossas dificuldades actuais...

Agora até as videochamadas são raras e feitas sempre no "corre-corre"... 

Aos poucos a casa vai ficando vazia... Vazia de móveis, cada vez mais desorganizada, repleta de caixotes e amontoados de coisas que ainda não tiveram tempo de ser "devidamente catalogados"... 

O Gui e o Martin parecem acompanhar calmamente a situação...

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E o meu coração?! Esse nem se fala... Tem batido a 200ppl/min... O meu e o do R... 

Há dias que temos a certeza que estamos a fazer a melhor coisa do Mundo... Há outros que o medo nos invade por não sabermos se vamos tornar a encontrar o equilíbrio em Portugal... 

Há dias em que estamos motivados e cheios de energia, há outros que estamos cansados e inseguros...

Mas apesar destes sentimentos ambíguos, continuamos a encher caixotes e a fazer despedidas (que nem sempre são fáceis) porque lá no fundo o nosso desejo de partir fala mais alto...

A nossa vontade de voltar a viver em Portugal é tão grande que mesmo que o nosso plano não der certo não ficaremos arrependidos de termos tentado porque sabemos que a vida será sempre feita de escolhas... E muitas vezes, é preciso deixarmos coisas para trás...