"Bem quando a minha irmã me pediu para escrever este texto disse-lhe que sim mesmo sem saber exatamente por onde começar…
Comecemos talvez por me apresentar. O meu nome é Sulay C, tenho 28 anos e sou a irmã mais nova, aquela que trabalhava e vivia na Alemanha... Mas não está mais...
Decidir emigrar para a Alemanha nos finais de Outubro de 2012... Confesso que na altura não pensei demasiado no impacto que ía ter esta minha decisão... Na época, o mercado de trabalho em Portugal não estava no melhor momento e as ofertas de trabalho eram mal remuneradas, por isso achei que devia arriscar e sair do país...
Com o meu pai a trabalhar na Alemanha, em Stuttgart, e eu tendo umas bases da língua alemã (bases estás adquiridas na escola e num curso intensivo que também fiz), achei que deveria aproveitar estes dois factos e tirar o melhor partido para a minha vida: a oportunidade de adquirir experiência profissional no estrangeiro e a oportunidade de viver com o meu pai.
Confesso que os primeiros seis meses não foram propriamente fáceis... Afinal as bases de alemão que eu pensava ter eram muito poucas para estabelecer um diálogo e compreender até as pessoas, o que fez com que não fosse propriamente fácil arranjar um trabalho e conciliar um curso de alemão ao mesmo tempo...
Foram quase três meses a enviar currículos e a ir a entrevistas... Até que no inicio de 2013 a minha sorte começou a mudar um bocadinho... Primeiro, consegui uma vaga num curso de alemão e logo depois consegui emprego numa empresa de reparações e tecnologia... Se este era o meu trabalho de sonho?! Claro que não era... Tinha saído de Portugal com uma expectativa muito alta de emprego, e sendo eu licenciada em Turismo, pensei que seria fácil arranjar algum emprego na minha área...
Apesar de não ser o emprego de sonho, arregacei as mangas e dei o meu melhor... Nunca pensei ficar 4 anos naquela empresa, mas acabei por ficar... E não me arrependo nada! Evoluí muito enquanto trabalhei lá... Comecei por fazer testes finais e de qualidade aos telemóveis/tablets, mais tarde passei para o atendimento ao público e, logo depois fiquei responsável pela parte administrativa e assistente direta do CEO e diretor... Tinha quase tudo para dar certo, mas faltava o "quase"... E o "quase" tinha ficado em Portugal...
A verdade, é que apesar de estar bem profissionalmente, quando optei por sair de Portugal acabei por perder muito da minha vida pessoal em prol da vida profissional... E quem é emigrante sabe bem do que falo... A vida de emigrante não é propriamente fácil... Perdem-se tantos momentos que nunca mais voltam... E aos poucos começamo-nos a sentir “visitas” no nosso próprio país... Nunca quis ficar definitivamente na Alemanha, e embora houvessem momentos que achasse que isso iria ser o meu destino, procurei manter-me atenta à evolução do mercado de trabalho em Portugal... Até que essa oportunidade surgiu e eu achei que era a altura certa para arriscar novamente...
Estes 4 anos na Alemanha foram fundamentais para a minha evolução pessoal e profissional e foi à conta disto que eu consegui regressar a Portugal... No início do ano surgiu então uma proposta tentadora de uma empresa em Portugal que procurava alguém para trabalhar com o mercado alemão... E foi esta proposta tentadora, que tornou a dar uma volta à minha vida e me fez regressar ao nosso país e recuperar algumas das coisas que fui perdendo enquanto estive longe.
Se foi fácil regressar a Portugal?! Tenho que confessar que não... Sinto que preciso de me adaptar novamente, pois o ritmo de vida na Alemanha era muito diferente... É estranho até dizer isto mas é a pura realidade...
Estou quase há um mês em Portugal, e posso afirmar que não me arrependo em nada da decisão que tomei, mas também não me arrependo da decisão que tomei há cinco anos atrás quando decidi emigrar... Viver e trabalhar na Alemanha permitiu-me crescer e evoluir e foi esta emigração que me deu um novo olhar sobre a vida...
Agora desejem-me sorte para esta nova etapa que ainda agora começou..."
(Este foi o testemunho da minha irmã mais nova que regressou definitivamente a Portugal no passado dia 25 de Março... A ela, aqui vai o meu obrigado pelo seu testemunho e toda a sorte do Mundo... Quem sabe um dia eu também irei escrever uma carta semelhante.)