O DOCE QUE AMARGOU!
Faz hoje mais ou menos quinze dias que fui fazer a prova de tolerância oral à glicose (PTOG), um rastreio que se faz às grávidas para despistar a diabetes gestacional, um tipo de diabetes que pode surgir durante a gravidez, e o qual é feito entre a 24ª e a 28ª semanas de gestação.
Basicamente o teste consiste numa recolha de sangue para avaliar a glicemia em 3 momentos diferentes:
- o primeiro em jejum;
- de seguida ingere-se uma espécie de xarope contendo 75 gramas de glicose, e espera-se 1 hora até colher sangue novamente;
- 2 horas após a ingestão do xarope, volta-se a colher sangue pela 3ª e última vez.
Para realizar esta prova, deve-se cumprir determinados requisitos:
- estar em jejum há mais de 8 horas, motivo pelo qual é feito de manhã;
- ao longo de todo o teste, não se pode sair do laboratório, devendo ficar-se sentada sem qualquer actividade física;
- deve manter-se o jejum até ao final da prova (apenas se pode beber um pouco de água no decorrer do mesmo).
O diagnóstico da doença é feito quando a grávida tem, pelo menos, 1 dos 3 resultados alterados:
- Glicemia Jejum: normal até 92 mg/dl;
- Glicemia após 1 hora: normal até 180 mg/dl;
- Glicemia após 2 horas: normal até 153 mg/dl.
Existem muitas grávidas que não conseguem fazer o teste pois o xarope provoca-lhes náuseas, e há até quem chegue a vomitar o produto, no meu caso, até que não correu mal, embora admito que não é nada agradável...
Acordei às 8h, pois sabia que precisaria da manhã completa para fazer a dita prova, eram 8h40min quando cheguei ao laboratório... Cheia de fome (por ter que estar em jejum), com o Gui aos saltinhos (acho que ele também queria comer... Eh... Eh...), e munida com um livro pois pensava que me seria útil para "ver passar o tempo" de forma mais rápida .
Entreguei as requisições na secretaria, fizeram-me algumas perguntas, escolhi o sabor do xarope que queria beber (limão ou laranja)... E optei pelo sabor a laranja uma vez que estava em jejum... Entre fazer os papéis e ser chamada foram mais ou menos 30 minutos à espera...
Fiz a primeira colheita de sangue e, logo de seguida, a técnica de análises clínicas, entre várias perguntas, explicou-me o procedimento e informou-se que 1 hora após beber o produto talvez não me sentisse muito bem devido à sobrecarga de açúcar... Entregou-me o xarope o qual tive que o beber de imediato, não era tão mau como imaginava, parecia uma espécie de laranjada bastante açucarada, um bocado enjoativo, mas o facto de estar refrigerado ajudou na ingestão.
Saí da sala das colheitas, sentei-me na sala de espera, com um cronómetro que a técnica me tinha dado para que dali a uma hora tornasse a fazer uma colheita de sangue. Estava decidida a ler o livro que tinha levado... Comecei a ler, mas 30 minutos após comecei a sentir-me cansada e ao mesmo tempo mal disposta... O Gui pulava cada vez mais, acho que a glicose o deixou eufórico, e eu só tinha vontade de me deitar... Guardei o livro, encostei a cabeça para trás e decidi manter-me imóvel até o cronómetro tocar... Talvez até tenha sido o melhor, pois a hora acabou por passar e fiz então a segunda colheita de sangue.
Ainda tinha mais uma hora pela frente.... Desta vez, nem me atrevi a pegar no livro, o Gui continuava animadíssimo, e eu tinha cada vez mais fome... A hora acabou por passar e, pela terceira vez, tornei a ser picada para fazer a última colheita de sangue.
Eram 11h45min quando saí do laboratório, fui a última pessoa a sair de lá, parece que já fazia "parte da mobília"... Cheia de fome mas contente por não ter vomitado o xarope, caso contrário, teria que repetir tudo de novo!
No dia seguinte levantei o resultado das análises... Não queria acreditar nos valores:
- Glicemia Jejum: 79 mg/dl;
- Glicemia após 1 hora: 191 mg/dl;
- Glicemia após 2 horas: 157 mg/dl.
Não estavam excessivamente altos, e apesar de não haver nenhum diagnóstico escrito nem valores de referência, nos resultados, sabia que tinha os critérios de uma Diabetes Gestacional!
Confesso que fiquei bastante desapontada com esta situação, sendo eu enfermeira, sabia exactamente do que se tratava... O meu marido não valorizou e até duvidou das minhas conclusões, mas eu tinha certeza do que se tratava e o que isto implicava... Um regime alimentar ainda mais apertado!
É claro que a primeira coisa que pensei foram nos chocolatinhos que ía deixar de comer, nos bolinhos, e até na quantidade de pão, massa, arroz e batatas que iria ter que começar a controlar... Mas quando se é mãe isto passa a ser secundário, e a vontade de fazer tudo direitinho em prol do nosso bébezinho passa a ser muito superior à vontade de comer essas gordices todas! Por isso, no mesmo dia que tive acesso aos resultados, eliminei os açúcares, os chocolates e os doces, sabia que não era a primeira nem iria ser a única, e o mais importante era, sem dúvida, ter a consciência tranquila por saber que não iria prejudicar o meu Principezinho!
Esperei uma semana para mostrar os resultados ao meu obstetra, data em que tinha marcada a consulta, estava tudo bem com o Gui, excepto os meus valores da PTOG... Mas isso eu já sabia! Mostrei o meu "descontentamento" com os resultados, e ele disse-me que não tinha motivos para me alarmar até porque estava tudo direitinho e o meu peso não tinha aumentado muito (5 Kg), mas mesmo assim fui encaminhada para a especialidade de endocrinologia.
Hoje fui à consulta e saí de lá escandalizada com a dieta que o endocrinologista me deu... Apenas 4 refeições por dia: pequeno-almoço, almoço, lanche e jantar! O almoço e o jantar até que são bastante normais, agora o pequeno-almoço e o lanche da tarde... Acho que vou cair para o lado se só comer isto, e até sou capaz de emagrecer uns 5 kg daqui até à próxima consulta, que é daqui a 15 dias.
Agora tenho um plano alimentar e uma máquina de glicemia para controlar os valores de açúcar, antes e depois das refeições...
Amanhã conto-vos mais sobre este meu plano alimentar e como estão os meus primeiros valores glicemia (de açúcar no sangue).
Hoje acho que vou aproveitar para comer normalmente para ver até que ponto tenho o meu açúcar descontrolado!
Para quem quiser saber mais um bocadinho do assunto, aqui fica um resumo breve e mais aprofundado sobre este tema.
A diabetes gestacional é um tipo de diabetes que pode surgir durante a gravidez, e que costuma desaparecer após o nascimento do bebé. Tal como em qualquer tipo de diabetes, a doença afeta a forma como as células utilizam a glicose (açúcar), provocando níveis elevados desta substância no sangue que podem afetar a gravidez e a saúde do bebé.
Mulheres que são diabéticas antes de engravidar não são consideradas portadoras de diabetes gestacional.
FATORES DE RISCO
- História familiar de diabetes mellitus
- Análises de sangue com glicose alterada antes da gravidez
- Excesso de peso antes e/ou durante a gravidez
- Mais de 25 anos
- Gravidez anterior com feto nascido com peso superior a 4 kg
- Histórico de aborto espontâneo sem causa esclarecida
- Filho anterior com malformação
- Hipertensão arterial
- Ter ou ter tido gestação em pré-eclâmpsia ou eclâmpsia (transtorno da gravidez caracterizado pelo aumento da tensão arterial e libertação de proteínas na urina - proteinúria - a partir da vigésima semana de gestação)
- Síndrome de ovários policísticos
- Uso de corticóides
DIAGNÓSTICO
Normalmente na primeira consulta de gravidez o médico/obstetra pede umas análises ao sangue na qual se avalia os níveis de glicemia em jejum (o valor esperado é menor que 85 mg/dl), se a paciente apresentar um resultado anormal (acima de 126 mg/dl) o exame deve ser repetido 1 ou 2 semanas, e a grávida pode ter que fazer o teste de tolerância oral à glicose antes mais cedo, pois pode ser indicativo de Diabetes Mellitus.
Se o valor estiver dentro dos normais, a grávida faz então o teste entre a 24ª e a 28ª semanas de gestação.
CONSEQUÊNCIAS
O diabetes gestacional traz riscos para a gestação e para o bebé.
Na gestação, aumenta o risco de aborto, parto prematuro e pré-eclâmpsia.
Já para o bebé, o excesso de glicose que circula no sangue da mãe vai atravessar a placenta e chegar ao bebé que vai ficar cheio de glicose. Desta forma, o pâncreas do bebé vai começar a produzir grandes quantidades de insulina, na tentativa de controlar a hiperglicemia fetal, e como a insulina estimula o crescimento e o aumento do peso, o bebé vai crescer mais que o esperado. É por isso, que os bebés de mães com diabetes gestacional nascem, habitualmente, com mais de 4kg e precisam de ser submetidos a parto por cesariana.
Quando a diabetes gestacional não é tratada, o bebé tem maior risco de morte intra-uterina, problemas cardíacos e respiratórios, icterícia e episódios de hipoglicemia após o parto. E em adultos, o risco de obesidade e diabetes mellitus tipo 2 será maior.
TRATAMENTO
Quando diagnosticada, a grávida deverá ter um acompanhamento de endocrinologia, exames de sangue mais regulares e medição de glicose várias vezes ao dia.
A doença é tratada, basicamente, com dieta saudável, com controle de açúcar, gordura e carbohidratos. O exercício físico também é fundamental (recomenda-se 30 minutos de caminhada por dia), dado que ajuda no funcionamento da insulina. No caso das grávidas com excesso de peso ou obesidade é imperativo emagrecer.
Se a mudança de hábitos de vida não resultar no controle da glicose, a grávida pode precisar de usar injecções de insulina.
Após o parto, a diabetes gestacional geralmente desaparece, para isso o médico irá pedir novamente uma PTOG seis a doze semanas após o parto. E embora esta desapareça, há sempre o risco aumentado de ter diabetes gestacional em gestações futuras ou ter diabetes tipo 2 mais tarde.