Ora aqui está um post que queria fazer a algum tempo para ajudar quem está aí desse lado e tem dúvidas como eu as tive.
As recomendações para a Alimentação no Primeiro Ano de Vida são baseadas nas da Sociedade Portuguesa de Pediatria de 2012, por isso para quem quiser aprofundar mais sobre este tema pode sempre espreitar aqui.
ALEITAMENTO MATERNO
_EXCLUSIVO ATÉ AOS 4 - 6 MESES_
Tal como já tinha falado num post anterior, o ideal é que o aleitamento materno seja exclusivo até aos 4 a 6 meses de idade, de forma a diminuir o risco de várias doenças, como otites, gastroenterites, eczema, asma, obesidade e outras. Além disso, é também benéfico para a mãe, pois está comprovado que diminui o risco de cancro da mama e do ovário. Só quando o aleitamento materno não é possível é que deve ser utilizado um leite adaptado.
Por volta dos 6 meses o leite materno deixa de suprimir as necessidades nutricionais do bebé, e é por este motivo que se deve dar início à diversificação alimentar. Assim, quer por exigências nutricionais quer inerentes ao desenvolvimento neurosensorial, motor e social do bebé, deverá proceder-se à introdução de alimentos que não o leite e de textura progressivamente menos homogénea, até à inserção na dieta familiar, que deverá ocorrer a partir dos 12 meses de idade. O lactente passa assim da sucção para a mastigação, entre os 5 e 8 meses, altura em que os dentes irrompem.
DIVERSIFICAÇÃO ALIMENTAR
_DOS 4 AOS 6 MESES ATÉ AOS 12 MESES_
A introdução de novos alimentos não pode ser rígida e deve ter em conta os fatores sociais, culturais e económicos, a disponibilidade do agregado familiar e as características do bebé. No entanto, é importante ter presente que os alimentos mais sólidos devem ser progressivamente introduzidos até aos 10 meses de idade.
A partir dos 4 meses
- Um dos primeiros alimentos a ser introduzido é o cereal, sob a forma de farinha/ papa (as papas são ricas em hidratos de carbono);
- Até aos 6 meses, as papas devem ser sem glúten (elaboradas a partir de milho, arroz ou frutos);
- As recomendações actuais dizem que o glúten deve ser introduzido a partir dos 6 meses, devendo a introdução ser gradual e preferencialmente acompanhada pela manutenção do aleitamento materno, de forma a reduzir o risco de diabetes mellitus tipo 1, doença celíaca e alergia ao trigo;
- As papas podem ser preparadas com água ou leite (materno ou adaptado) conforme o tipo de farinha;
- A introdução das papas não é obrigatória pelo que a introdução alimentar pode ser feita com um puré de legumes (ver tópico seguinte).
A partir dos 5 - 6 meses
- Recomenda-se a introdução de puré ou sopa de legumes;
- Os legumes recomendados são: a batata e legumes suaves e pouco fibrosos como a cenoura, a abóbora, a cebola, o alho francês, a curgete, o brócolo, o feijão-verde, a alface e o couve branca;
- Recomenda-se a introdução de um legume de cada vez (cerca de um ou dois legumes novos por semana. Manter o mesmo legume durante 3 a 5 dias. A partir daqui, pode-se adicionar outro legume ao anterior, durante mais 3 ou 4 dias, até eventualmente poder misturar-se 3 ou 4 legumes diferentes);
- Sem adição de sal até aos 12 meses;
- Com adição de 5 a 7,5ml de azeite por sopa ou puré (deve ser adicionado em cru, no prato, no momento de servir);
- A sopa deve ser dada ao almoço;
-Entre os 6 meses e meio aos 7 meses aconselha-se a dar 2 sopas ou purés (almoço e jantar).
A partir dos 6 meses
- Recomenda-se a introdução de frutas, como sobremesa (os frutos são antioxidantes, ricos em vitaminas, minerais e fibras);
- O ideal é começar com frutas suaves como a maçã ou pêra cozidas ou assadas e reduzidas a puré ou a banana (inicialmente 20 a 30 gramas);
- Também se pode dar melão, meloa, melancia, papaia e a manga;
- Devem evitar-se frutos mais suscetíveis de provocar intolerância ou alergia até aos 12 meses, como o kiwi, o morango, a amora, a maracujá, assim como os citrinos;
- Tal como acontece com os legumes, recomenda-se dar um fruto de cada vez, pelo menos inicialmente (de forma a avaliar a tolerância do mesmo);
- Os sumos devem ser evitados, devido à acidez e ao risco elevado de habituação ao sabor doce (desabituação da água como bebida).
Entre os 6 - 7 meses
- A introdução de carne e peixe é recomendada a partir dos 6 meses (a carne e o peixe são ricos em proteínas e ferro);
- Devem dar-se preferência às carnes magras como o frango, o perú e o coelho, de forma a evitar um excesso de gorduras saturadas;
- A introdução do peixe deverá ser feita inicialmente com peixes magros, como a pescada, o linguado, a solha ou a faneca.
- O salmão, devido ao seu elevado teor de gordura, poderá condicionar intolerância digestiva pelo que deverá ser introduzido depois dos 10 meses e em pequenas porções (não mais de 15g em cada dose).
- Aconselha-se a introdução de um tipo de carne ou peixe de cada vez;
- Deve começar-se com 10 gramas de carne ou peixe por dia (uma colher de café) e aumentar progressivamente até 30 gramas/dia, associados à sopa ou puré de legumes;
- A dose de carne ou peixe pode ser dada numa só refeição ou dividida nas duas (almoço e jantar);
- É recomendado dar carne 4 dias por semana e peixe 3 dias por semana.
A partir dos 7 - 8 meses
- Podem ser introduzidas a farinha de pau e a açorda numa das refeições principais.
A partir dos 8 meses
- É recomendada a introdução de arroz, massa, batatas, cozinhados de preferência com legumes, e com uma textura progressivamente mais sólida.
A partir dos 9 meses
- A introdução da gema de ovo é recomendada a partir dos 9 meses;
- É recomendado não exceder uma gema de cada vez (num máximo 3 gemas por semana);
- A clara do ovo só deve ser dada a partir dos 11 meses;
- É recomendado adiar a introdução da clara para os 24 meses nas crianças com alto risco de alergia (história familiar).
- As leguminosas secas (feijão, grão de bico, lentilha, ervilha, soja, fava) podem ser introduzidas entre os 9 e os 11 meses (são ricas em hidratos de carbono complexos, e possuem proteínas vegetais, complementares das proteínas presentes nos cereais, o que é importante em caso de regime vegetariano). Inicialmente devem ser previamente bem demolhadas e dasos sem casca e em pequenas porções;
- A introdução do iogurte (150 - 200ml) é recomendada a partir dos 9 meses, como lanche, em alternativa ao leite ou à papa (o iogurte é um alimento completo, rico em proteínas e hidratos de carbono com índice glicémico baixo. Tem um papel prebiótico, ou seja, estimula o desenvolvimento da flora bacteriana benéfica do cólon, diminuindo o risco de gastroenterites e outras infeções e alergias. É também rico em probióticos, isto é, bactérias benéficas para o hospedeiro, como lactobacilos e bifidobactérias, que protegem de doenças digestivas, alergias e eventualmente de obesidade);
- O iogurte deve ser natural, sem aromas, açúcar ou nata.
A partir dos 12 meses
- Podem dar-se frutos secos (nunca antes pelo risco elevado de alergia);
- Após os 12 meses, o leite utilizado pode ser leite de crescimento ou leite de vaca meio- gordo.
CONSIDERAÇÕES A TER
- Assim que se inicia a diversificação alimentar é aconselhado dar água várias vezes ao dia, sobretudo nos períodos de mais calor. Os chás, os sumos e os refrigerantes não devem ser nunca utilizados;
- É importante ter em consideração que existem “janelas de oportunidade” para o desenvolvimento de todas estas capacidades e para o treino da aceitação de alimentos progressivamente mais sólidos e de paladares e texturas diferentes do leite. É por isso que este "treino" deve ocorrer entre os 8 e 10 meses, caso contrário poderá comprometer todo o processo de diversicação alimentar e aumentar o risco futuro de diculdades na alimentação.
- Uma diversificação alimentar efectuada no momento certo, através da introdução de alimentos de consistência, densidade energética (energia por unidade de volume) e em nutrientes adequadas, administrados numa quantidade e com uma frequência corretas, será a garantia de uma oferta energética adequada e nutricionalmente equilibrada que, em última consequência, será a garantia para a estimulação do apetite e a procura de novos paladares e texturas para a vida.
- A cronologia da introdução dos diferentes alimentos não deve ser rígida e deve ter em consideração uma série de factores de ordem social e cultural, tais como tradições, questões socioeconómicas, especificidade de cada bebé (como por exemplo: patologias específicas, alergias alimentares, etc.), entre outras.